sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Experiência (des)organizada

Perspectivas em provocações:

Falar sobre as provocações ainda carregadas de questionamentos, não maduras, latentes até demais, inseguras, um tanto recém conhecidas, é bastante delicado, mas ao mesmo tempo auxilia-me no processo corporal de organização e transformação dessas sensações percebidas por mim em situações e experiências que eram ainda indescobertas e que foram proporcionadas através de diferentes práticas/pensamentos somáticos.
Sensibilizar o corpo é desestabilizá-lo (em primeiro instante). Afinal, desde sempre somos condicionados, padronizados, socializados e todo esse processo exige uma adequação aos moldes pré-estabelecidos e ditos corretos, resultado de uma herança sócio-cultural da qual não escapamos. Somos organizados somaticamente a partir das nossas relações, experiências, criando nossa existência corporal o tempo todo.
Desse modo, as práticas de educação somática contribuem para a sensibilização do corpo, permitindo assim conhecê-lo através de seus limites e potências, possibilitando o processo de reorganização deste e de sua imagem.
O primeiro contato com as práticas somáticas foi a partir do médoto Bertazzo, experimentado e apreendido sistematicamente dentro de suas possibilidades. Meu corpo a partir das referências que tinha acerca da execução de uma breve seqüência que tem como princípio trabalhar com o equilíbrio do tônus, alongamento, alinhamento e ampliação dos espaços internos (articulações, órgãos, músculos) foi conhecendo os lugares e as formas em que se encontrava. Mas todo esse trabalho aconteceu num crescente, sendo que a cada vez que me propunha a executar a sequência sentia um estranhamento seguido de uma percepção um tanto tardia do que fora trabalhado. Tardia pelo fato de as sensações ficarem fervilhando meu corpo até clarearem finalmente, ou, não. Foi crescente, pois a cada momento em que trabalhávamos a sequência, nos era proposto diferentes focos que cuidavam muito especificamente de cada parte do corpo, até por fim experimentarmos os focos simultaneamente.
Experimentamos duas sequências do método Bertazzo (relativas às fotos de postagens anteriores) e um exercício onde se trabalha a unidade e controle do corpo, ativando o abdome e utilizando-se de todos os princípios descritos abaixo.

Sequências:

As experiências com as sequências do método Bertazzo permitiram trabalhar a organização do meu corpo a partir da sensibilização do mesmo.
É muito importante durante o trabalho com as sequências manter a conexão cabeça/cóccix como se as duas extremidades se projetassem até um ponto em que fechassem uma circunferência. Cuidado para não aproximar costelas e espinhas ilíacas. Manter o espaço abdominal sem comprimí-lo é fundamental.
Os princípios trabalhados dentro das sequências do método Bertazzo e também experimentados em outras práticas somáticas se dividem em pontos:

O primeiro ponto trabalhado foi o arco transverso, o início de um processo de trabalho da coordenação motora.



"Sensibilizando um corpo a partir dos focos". (Pés: arco transverso).

Inicialmente trabalhar o arco transverso pode ser difícil, mas este ponto é a base de um trabalho de equilíbrio de tônus. O arco transverso quando ativado, faz com que se ative também outra região, o tendão tibial anterior. Assim, o trabalho de alinhamento e organização corporal é feito processualmente, como uma rede de pontos chaves que sensibilizados, acionam outras cadeias musculares, possibilitam ampliar espaços inter-articulares e etc.


"Sensibilizando um corpo a partir dos focos". (Pernas: tendão tibial anterior e rotação do sartório).

Outro foco trabalhado a partir dos anteriores é a rotação do sartório que ativa outra cadeia muscular nos glúteos, os “rotadores” que interferem diretamente no alinhamento do quadril.


"Sensibilizando um corpo a partir dos focos". (Quadril: alinhamento, ampliação dos espaços inter-articulares, trabalho com os músculos 'rotadores'(glúteos). Direcionamento do sacro e púbis.

Ativar os pontos do corpo já citados faz com que o direcionamento do púbis e do sacro seja equilibrado, ou seja, o sacro se direciona para baixo ao mesmo tempo que o púbis se direciona para cima.


"Sensibilizando um corpo a partir dos focos". (Tórax: cintura escapular e trabalho de direcionamento de vetores opostos com o objetivo de ampliar espaços internos e provocar a sensação de volume).

O trabalho com o tórax deve ser cuidadoso, no sentido de que há pontos simultaneamente ativados, assim como no quadril. As costelas abaixam ao mesmo tempo em que as escápulas afundam e abrem, sem que os ombros caiam. Há duas forças opostas atuando juntas: nas costas, mais precisamente entre as escápulas, e entre os seios, na altura dos ombros, de modo que o tórax amplie seu volume (frente e trás).


“Sensibilizando um corpo a partir dos focos". (Cabeça: encaixe "cabeça/cervical" e focos múltiplos).

Sensibilizar a articulação crânio/cervical auxilia na noção de ligamento entre essa articulação e o cóccix.
Essa relação das extremidades da coluna (cóccix e cabeça em projeções opostas) ou "primeira curvatura", trabalha com:
-Alongamento da coluna sem comprimir o abdome.
-Relação cabeça/cóccix.
-Tridimensionalidade.
-Lateralidade e tensão.
-Alongamento posterior e fortalecimento do abdome.

A mudança de posição em relação à gravidade nos fornece diferentes referências e percepções.
Os exercícios, as sequências trabalhadas em aula, que exigem um estado de atenção preciso em suas execuções, trabalham a organização do corpo em diferentes posições em relação à gravidade, respeitando a coordenação motora, trabalhando a unidade desse corpo, seu volume, alinhamento, sensibilização, fornecendo percepções a partir de diferentes referências. Como consequência, o controle do equilíbrio, dos movimentos e a capacidade de apropriação de posturas, imagens e sequências são ampliados.

A observação do outro dentro das práticas auxilia no exercício individual de relação e trabalho com o que é proposto, além de contribuir para o olhar sensível em relação a esses indivíduos de modo que cada um torna-se referência importante para o observador. Posso sensibilizar meu corpo também a partir do outro.
Além do método Bertazzo, experimentamos brevemente outras práticas somáticas como o pilates, o método Klauss Vianna, Tai Chi Chuan e eutonia. Muitas abordando os mesmos e/ou diferentes princípios.
A eutonia em contraponto ao método Bertazzo trabalha muitas vezes com o relaxamento, mas visa os mesmos princípios do método como o equilíbrio de tônus. Com o pilates, trabalhamos o fortalecimento do abdome e o alongamento posterior. Estes são focos importantes, pois é comum pessoas apresentarem abdome frágil e encurtamento da musculatura posterior. O trabalho com os direcionamentos ósseos a partir do método Kláuss Vianna, serviu para enfocar o processo de alinhamento e organização corporal. Um dos princípios do método é que alguns pontos específicos do corpo ativam outros demais auxiliando no direcionamento, volume e expansão do corpo. Partimos para um trabalho de diferentes apoios deste em relação ao chão, tudo isso a patir da ativação desses pontos específicos, com metatarso, calcâneo, púbis, sacro, escápulas, cotovelos, sétima vértebra, pulso e metacarpos.
Com o Tai Chi Chuan, experimentamos transferência de peso, expansão, alinhamento e respiração, sendo este último muito importante na sensibilização da região do tórax, mais precisamente as costelas e suas articulações. Esse procedimento complementou o trabalho com as outras práticas, sendo também um dos princípios do método Bertazzo.

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