quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

caminho...



Para mim, e acredito para muitos, é sempre difícil de iniciar a escritura de um texto. E quando ele fala de nós mesmos é mais difícil ainda. Por mais que as coisas aconteçam numa ordem, elas estão todas interligadas, seja de uma forma mais direta e visível, ou de uma forma mais indireta e sensível. Ter feito um semestre de uma disciplina chamada Consciência Corporal e posteriormente Expressão Corporal I, me deu uma impressão de que coisas básicas em relação ao corpo de alguma forma estavam conquistadas ou controladas, como por exemplo meu desalinhamento do quadril. E o que pude observar principalmente nessa disciplina, com ajuda de outras como, por exemplo a ministrada pelo mestrando Vanilton Lakka, é de que nunca dominaremos nem controlaremos nada de uma vez, o que podemos fazer em determinados exercícios é conseguir uma eficiência e alinhamento corporal mas ao realizar outras séries de exercicios devemos retomar primeiro mentalmente a posterior corporalmente todas nossas dificuldades para assim realizar o exercicio com mais precisão. O clima que instaurou-se na disciplina de uma cumplicidade e discussão foi interessante pois fazia com que pensasse mais em como levar o que fora aprendido para o cotidiano, que ao meu ver é o grande desafio. Pois estar com os pés paralelos (já, já, vamos falar dele...) e com a coluna toda ereta é mais fácil quando se está numa sala de trabalho, mas, e quando se está lavando roupa, louça ou varrendo a casa? Percebia no meu dia-a-dia a necessidade de policiar-se constantemente. E o mais interessante de tudo ainda é que uma vez ou outra que acabei por fazer tarefas diárias tão cansado ao ponto de estar com um “corpo jogado”, em pouco tempo ele já me avisava com dores na coluna e voltava para o alinhamento.

Sobre os pés paralelos: Desde que os pés estão em contato com o chão, temos que mante-los em paralelo... e eu os deixava, sempre. Ou achava. Mesmo com inúmeros corpos diferentes, limitações diversas, genéticas e afins eu percebia que o meu paralelismo estava sempre um pouco distoante. Até que perguntei na última aula pra Renata. E ela re-explico e percebi que meu "desconfiômetro" estava certo. Estava no paralelo errado.Fiquei muito contente ao "achar" o meu paralelo. E posso dizer que me senti que nem criança quando ganha doce, sabe? Ou quando descobre algo super legal, super novo, uma novidade e tal... Ficava lá, com o meu "novo" paralelo. E essa questão me ajudou semanas depois a, finalmente, perceber o alinhamento fêmur, patela, pé... Mas essa é uma questão ainda em processo que preciso de confirmações pessoais (ou seja, prepara-se para as duvidas 2010, ouviu Rê?, hehe)

Falando mais especificamente das sequências no início fazíamos mais devagar, tentando observar as limitações de cada corpo. Na primeira sequência do Bertazzo (assim Jade o chamou em seu ilustrado post) recordo-me de no início ter feito, acredito que na segunda vez, com a Marina e percebemos, mais com o auxílio dela do que o meu próprio, de que precisava encaixar mais o cóccix e descer com ele sem desalinhá-lo e não subir o quadril enquanto deslocávamos o corpo com as mãos em contato com o chão. Ao realizar a mesma no final, essas questões estavam um pouco mais resolvidas e o foco de atenção caiu sobre a questão de na curva de virar o corpo eu "puxava" o corpo, deixando-o um pouco desalinhado. Não permitia levá-lo por inteiro. Após esse toque fiz mais uma ou duas vezes, não me recordo ao certo, com um pouco mais de atenção.

Em outra sequência que fizemos(na ordem das fotos é a próxima no post da Jade) eu ficava muito preocupado em encostar ou não a coxa no chão, procurando não encostar achando que isso significaria que eu estivesse mais integrado e trabalhando mais tônus no exercício, o que pude verificar em nossa última aula que isso fazia com que meu alinhamento pés, quadril, cabeça ficasse comprometido com o quadril todo para trás. Priscila e Ana Paula me chamara a atenção e com a ajuda da Renata, alinhamos. Percebi, então, que era inevitável a coxa no chão e que isso não significava estar relaxado pois era só eu não largá-la, mantendo assim o tônus.

Não queria entrar muito nessa questão, pois já entrei em dúvida de novo, e acho que nada é tão radical assim, e acredito que podemos ser ambíguos, sempre.... o caso é que lendo o artigo de Débora Bolsanello, Educação somática: o corpo enquanto experiência, é que pensei de que pouco a pouco estava mais sendo conquistado por um trabalho pautado mais na subjetividade, de que provavelmente estava num momento mais pra Educação Somática do que pra Eugênio Barba. E aí que 2010 será o desafio, pois não quero perder esse pontapé inicial nesse campo teórico prático mas ao mesmo tempo quero/preciso fazer musculação. Como trabalhar algo tão desligado corpo e mente sem perder essa conexão? Ando pensando que vai ser uma super experiência. Uma idéia já me veio: fazer musculação com elementos do Yoga (Presente no trecho que lemos em sala de aula do livro O Papel do Corpo no Corpo do Ator, Sônia Machado de Azevedo): combinar os exercícios com a respiração, inspirando nos exercícios ascendentes e expirando nos descendentes e de buscar o progresso sem pressa, com serenidade, confiança, sem movimentos bruscos.
Lendo o texto percebo o quando a disciplina já reverbera em mim, e o quanto reverberá num futuro próximo...me ajudou muito, mantendo meus olhos abertos nesse caminho, nessa eterna caminhada em direção ao meu corpo, a mim mesmo. Pois se não estamos ligados, se não compreendemos nosso corpo, que é o temos de mais próximo a nós mesmos, o que será de nossas relações interpessoais, por exemplo? Tudo será fragmentado. Incompleto. Acredito, e tenho certeza, de que gosto de fantasiar e viajar mais do que deveria, mas também acredito, de que isso faz parte. Estou trabalhando com minha subjetividade, afinal de contas. E para encerrar gostaria de deixar registrado que acredito que depois da disciplina minha sensações, sentimentos e confusões estão fazendo com que sonhe muito, nunca sonhei tanto sobre acontecimentos e pensamentos que me acercam. Acho que a disciplina é responsável por isso, de alguma forma. Tudo está ligado. De alguma forma ou outra. Você não acha?




.fotos: meus pés na data da foto em carlópolis/pr.